16 de nov. de 2008

14º Encontro - Narradores de Javé

Filme: Narradores de Javé.

Narradores de Javé” marca a luta de um povo, os moradores do Vale de Javé, no sertão baiano, na tentativa de registrar sua história na escrita, pois essa só existia na oralidade. Escrever a história dessa cidade foi imposição do Estado que tinha um projeto de transformar a área onde se encontrava a cidade em uma represa.
Sem outra opção, o povo de Javé resolve encarregar o antigo responsável pela Agência de Correios do povoado - ele era o único alfabetizado do lugar -para ouvir o relato dos moradores e a partir deles, escrever a história do povo do Vale de Javé.
Diante dessa proposta de registrar por escrito a história da cidade de Javé, nota-se a supremacia da cultura letrada sobre a cultura popular de base oral. Uma visão preconceituosa e elitista, que considera a cultura letrada superior à oral.
O povo de Javé se reune e passa então a relatar ao carteiro da região aquilo que lhes havia sido passado de geração em geração: a saga de seu fundador, Indalécio, no desbravamento do sertão baiano, a fim de fundar um povoado para os seus seguidores. E os relatos têm tantos pontos de vista diferentes que vão se distanciando cada vez mais um do outro. Cada relato é permeado pela visão pessoal dos moradores, os quais vão traduzindo-o segundo o seu olhar, sua formação sociocultural e religiosa. E surgem tantas versões para a história da cidade que o carteiro não consegue fazer o registro escrito e fatalmente a cidade é inundada.
Na verdade, como resolver o dilema de traduzir uma narrativa oral que esteve sempre em movimento, viva na boca dos moradores do vilarejo, para um registro escrito, que, como tal é estático e imutável, e que, acima de tudo, só permite uma versão que é única e definitiva? Como não conseguem atender às exigências do progresso e da civilização, desaparecem como palavras ao vento.

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