Ao trabalhar com os alunos a leitura e a interpretação de um texto deve-se propor à turma atividades que estimulem a visão crítica. Pois, as aulas de leitura e interpretação devem permitir que o aluno veja o que está por trás do texto, promovendo nele um despertar, uma visão mais crítica sobre a temática abordada. Deve-se levar, também, em consideração o implícito e o subentendido do texto.
Um dos aspectos fundamentais da significação lingüística é o conceito de
implícito, que se refere àquilo que um enunciado significa, que pode não estar diretamente dito no enunciado (Guimarães 2006).
O conceito de
subentendido é concebido por Ducrot (1987) como insinuações presentes numa frase ou num conjunto de frases que não são marcadas lingüisticamente. Segundo Guimarães, 2006, esse conceito permite acrescentar alguma coisa "sem dizê-la, ao mesmo tempo, em que ela é dita".
Segue um exemplo de um exercício tirado do livro de português com o qual trabalho com meus alunos do ensino médio, os autores são William Cereja e Thereza Cochar, editora Atual.
Diálogo: Wood e Stock (Charge)
_ "Vinte anos atrás eu vivia na base de sexo,drogas e rock in rooll !.
_ Eu também !
_ Passava noite e dia viajando de ácido, escutando Jefferson air plane...
_ Eu também !
_ ... E fazendo sexo com a Bete Speed, minha noiva !
_ Eu também !"
Perguntas:
1) Quais são as duas maneiras possíveis de interpretar o enunciado de Stock no último quadrinho?
2) Qual a palavra da fala de Wood que é fundamental para que a última fala de Stock possa ser interpretada de duas maneiras ?
3) Levando-se em conta os padrões morais de nossa sociedade, qual das duas maneiras de entender a última fala de Stock provoca riso no leitor ?
Respostas:
1) Primeira maneira : Stock fez sexo com sua própria noiva. Segunda maneira: Stock fez sexo com a noiva do amigo.
2) "Minha".
3) A idéia de que Stock teria feito sexo com a noiva do amigo é que provoca riso.
Observa-se que este exercício de interpretação de texto trabalha com os conceitos de subentendido e pressuposto, como se pode observar nas perguntas. O aluno na tentativa de respondê-las não encontra respostas explícitas no texto como geralmente é acostumado a fazer. Ele dará resposta de acordo com o sentido que está subentendido.
O que se pode explorar numa fábula e em uma piada?Tendo em vista que uma das propostas dos PCNs é o trabalho com gêneros textuais diversificados, a fábula e a piada são textos ricos em pressupostos e subentendidos que nos oferecem a possibilidade de trabalhar com os alunos de forma lúdica e divertida.
Na fábula, pode-se trabalhar os valores morais e éticos ao fazer com a turma uma reflexão sobre a mensagem implícita na fábula lida e depois pedir que o aluno conte para a turma algum fato vivido por ele ou por alguém que ele conheça que causou consequências parecidas ao ocorrido com o personagem da história. Ou mesmo o professor pode lembrar aos alunos alguma notícia, amplamente divulgada na mídia, envolvendo problemas éticos e morais semelhantes aos da fábula.
A Piada é outro gênero textual muito apreciado e conhecido pelos alunos. Esse gênero nos oferece diversas possibilidades de trabalho pedagógico lúdico, com o qual podemos trabalhar o pressuposto e subentendido do texto. Pode-se pedir que duplas de alunos escrevam uma piada conhecida e dê para que outra dupla leia e analise qual foi o conhecimento prévio que os ajudou a compreender o texto.